quinta-feira, 7 de junho de 2012

A nossa namorada


Terça-feira, 12 de junho, é dia dos namorados – dia de trocar presentes, carícias e juras de amor. No entanto, ninguém, em sã consciência, espera chegar a 12 de junho para trocar presentes, carícias e juras de amor, sob pena de, no dia 12 de junho, não ter com quem trocar presentes, carícias e juras de amor. O poeta de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, já dizia: “O Dia dos Namorados / para mim é todo dia. / Não tenho dias marcados / para te amar noite e dia”. 

Drummond é conhecido como o poeta de Itabira, não apenas por ter nascido naquele município do interior de Minas, mas por amar a cidade. Embora, após ter fixado residência no Rio de Janeiro, poucas vezes Drummond tenha voltado à cidade em que nasceu, o poeta sentia saudade, a ponto de terminar a poesia Confidência do Itabirano com as seguintes frases: "Itabira é apenas um retrato na parede. Mas como dói!“.

A cidade onde a gente vive, seja por nela ter nascido ou por tê-la escolhido para viver, tem que ser tratada como um namorado trata a namorada: com carinho, amor e respeito. Entretanto, nós, que tantas vezes reclamamos do poder público (e tantas vezes com razão), também nos esquecemos de fazer a nossa parte. Fazemos juras de amor por nossa cidade, mas jogamos lixo nela. Ora, quem ama, cuida. Jamais jogaríamos lixo na nossa namorada. Na página 4 da edição anterior de O Cidadão, uma matéria, intitulada “Comunidade se mobiliza para resolver problema do lixo”, me chamou a atenção. Lá, a líder comunitária Fátima Solange Oliveira Góes, a Sol, que há muito tempo vem lutando para manter sua comunidade limpa, reclama não apenas do poder público, mas da população em geral, que insiste em sujar a cidade. Sol não desiste em sua luta. Sol é uma iluminada! Um exemplo a ser seguido!

Roleta barcarenense


Definição de roleta-russa, segundo o Aurélio: “demonstração de coragem insensata, que consiste em colocar apenas uma bala no tambor de um revólver, girar o tambor e puxar o gatilho contra si próprio, correndo o risco de ser atingido, caso fique diante do cão a única bala da arma”. Em Barcarena, vivemos uma situação absurda, análoga a uma roleta-russa. No entanto, a nossa roleta, a barcarenense, tem uma diferença. Para viver em nossa cidade é preciso coragem, muita coragem. Não a coragem “insensata” de quem puxa o gatilho contra si próprio, mas a coragem forçada, sem alternativa, de, simplesmente, tentar se manter vivo em meio à total falta de segurança.

A escalada da violência em nossa cidade chegou a um patamar tão absurdo que um ato simples e rotineiro como sair de casa e ir para o trabalho, ou voltar do trabalho para casa, passou a ser um ato de bravura. Ficar em casa, ou estar no trabalho, também não nos dá segurança alguma. Amanhecer vivo em Barcarena é uma questão de sorte, muita sorte. Anoitecer vivo, idem. 

Enquanto vivemos tentamos nos manter vivos nesse descalabro, o poder público cruza os braços. De forma tal que chamar de poder público soa falso. Melhor chamar de fraqueza pública, ou de inércia pública. A começar da Câmara de Vereadores, que sequer leva a sério o tema. Dá nojo, náusea. Enquanto um cidadão de bem é assassinado, os vereadores estão na tribuna defendendo o emprego de um parente na Prefeitura. Onde está o prefeito, que deixa acontecer essa tolerância 100 com a bandidagem? É preciso fazer alguma coisa. A ação conjunta das policias Civil e Militar denominada de “Operação Tribus”, deflagrada na madrugada de quinta-feira em Barcarena, é um bom exemplo de que podemos sim vencer o crime. Porém, tal ação, embora louvável, ainda é exceção à regra triste e medonha em que vivemos.

Questão de justiça


Venho fazendo, em alguns artigos publicados nessa coluna, críticas veementes sobre a atuação dos vereadores da nossa cidade. A começar pela frequência, os nossos parlamentares escarnecem da população. Além disso, não prestam conta da verba que chega mensalmente à Casa, não fiscalizam como deveriam as contas do executivo, trocam xingamentos e mandam recadinhos da tribuna a desafetos de ocasião, e por aí vai.

Muitos dos representantes do povo barcarenense, quando faltam a uma sessão plenária da Câmara (e como faltam, os gazeteiros), passam despercebidos, tal pífia é a atuação dos mesmos. Quando se dignam comparecer ao trabalho, ficam então à surdina, assistindo ao triste espetáculo encenado pela minoria mais afoita, e nada fazem para botar ordem naquela instituição. Não se lembram de que foram eleitos para atuar e não para se passarem por plateia. Assim, por puro desinteresse (ou por interesses inconfessáveis), põem-se como coadjuvantes da farsa, cúmplices do malfeito, coautores da velhacaria. 

Dos dez vereadores de Barcarena, Ary Santos foi o mais votado nas últimas eleições, tendo amealhado 1.898 votos. Por isso, e também por se tratar do seu primeiro mandato, criou-se a expectativa de que o parlamentar faria um bom trabalho na Câmara, e que poderia despontar como uma liderança política. No entanto, o tempo tem frustrado a esperança. Ary Santos, além de não ter dado prosseguimento à regulamentação do transporte público do município, tem se envolvido em situações lamentáveis. Todavia, eu, que venho lhe desferindo críticas frequentes, por uma questão de justiça, devo dizer que Ary Santos pelo menos é assíduo ao trabalho. É certo que não faz mais do que sua obrigação, mas isso indica que nem tudo está perdido.