terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Lição de vida

Fim de ano sempre é ocasião propícia para se fazer um balanço das conquistas e frustações pelas quais passamos, não apenas no decorrer dos últimos doze meses, mas ao longo da vida. É a hora em que colocamos na balança os nossos erros e acertos, e prometemos para nós próprios não cometer os mesmos equívocos do passado. Fim de ano também é ocasião que nos favorece, uma vez que podemos zerar tudo e começar de novo, mesmo sabendo que, como seres humanos, falhos que somos, continuaremos a errar vida afora, seja pela coragem de tentar coisas novas, ou simplesmente pelo fato de, como seres humanos, falhos que somos, incidir em erros antigos. Assim, perdoamo-nos, e seguimos em frente. Até porque, se “no meio do caminho tinha uma pedra”, tinha também uma poesia, e a vida é mesmo uma dádiva maravilhosa. Se fossemos perfeitos e infalíveis, talvez nem tivesse graça. É como diz uma música do Guilherme Arantes, aliás, belíssima na voz de Elis Regina: “Vivendo e aprendendo a jogar / Nem sempre ganhando / Nem sempre perdendo / Mas aprendendo a jogar”.

Articulista do Jornal O CIDADÃO e editor da Revista PAJUREBA, passei mais um ano observando, sempre de forma crítica, o que acontece, na política de uma maneira mais geral, ou na cultura mais especificamente, em nossa cidade. Este ano, algo de muito positivo e interessante me chamou a atenção, quando me deparei com a matéria de capa da edição número 41 da Pajureba, de título “Atletas de ouro”, sobre a fantástica conquista dos alunos paratletas barcarenenses nas Paralimpíadas Escolares 2013. Numa competição que envolveu cerca de 1.300 participantes, das 111 medalhas que os paraenses trouxeram na bagagem, 38 eram de Barcarena. Assim que soube da notícia, fiquei curioso em saber qual o segredo de tamanho sucesso, uma vez ciente de que aqui no município não temos grandes estruturas para treinamento. Ao ler a matéria, dei então de cara com a resposta. Durante entrevista para o jornalista Ellyson Ramos, um dos coordenadores do Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado, Rosivaldo Ribeiro, afirmou: “Nós temos de dar desafios para as pessoas com deficiência. Nós não podemos trabalhar na linha do coitadinho. Eles têm de saber que são capazes, que têm condições de aprender. Isso sim é importante”. Ou seja, Barcarena conquistou 38 medalhas num evento desportivo de âmbito nacional, simplesmente porque, lutando contra todo tipo de adversidade, acreditou que poderia.

A equipe paralímpica barcarenense, e aqui cabe mencionar alunos, professores e coordenadores, presenteou a todos nós com uma lição de vida. Bem sabemos das nossas dificuldades, como sociedade ou como indivíduos, mas não somos coitadinhos. Nós podemos sim realizar coisas grandiosas, memoráveis. E quando se fala em nossa cidade, um lugar com um potencial tão extraordinário, mas com uma realidade tão cheia de mazelas, devemos, naturalmente, cobrar do poder público, aliás, essa é uma obrigação nossa. Entretanto, também temos, diretamente, enquanto cidadãos, nossa parcela de culpa. Um exemplo óbvio, entre tantos outros, são os nossos espaços públicos, tão degradados, com lixo espalhado pelas vias. Há quem diga que nossas ruas vivem cheias de lixo porque o poder público não faz a devida limpeza. Porém, o fato é que o lixo está lá porque a sociedade jogou. Mais um ano se inicia, e Barcarena nos convida a torná-la um modelo virtuoso de cidade. Conscientizar dezenas de milhares de pessoas em torno de pensar e cuidar da cidade, certamente não é nada fácil, e a cada dia, quando vemos a cidade que amamos tão mal cuidada, nos sentimos como andorinhas solitárias, sonhando inutilmente em fazer acontecer o verão. Porém, é preciso, tanto em nossa vida particular quanto coletiva, seguir o exemplo de vida dos nossos paratletas campeões, e continuar tentando. Nós podemos sim mudar as coisas.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Terra arrasada

Desde que as indústrias de mineração se instalaram em Barcarena, o município vem, paulatinamente, abandonando a sua agricultura. Se ainda há quem nos chame de “Terra do Abacaxi”, esses poucos são saudosistas de uma época que, embora não tão remota, já ficou para trás. Assim, o parque industrial que ganhamos do acaso, uma vez que nossos políticos nunca moveram uma palha sequer no sentido de implantá-lo, tornou-se um presente de grego, ao introduzir nos nossos mandatários uma terrível preguiça intelectual, se é que existe realmente alguma massa cinzenta na cachola dos tacanhos.

A Escola Agrícola de Barcarena é o retrato do descaso do executivo municipal, não apenas com a agricultura, mas também com o ensino público. Sai prefeito, entra prefeito, e as edificações da Escola estão ruindo, se transformando cada vez mais em tapera, e nenhum deles toma providência alguma. Enquanto o prefeito Antônio Carlos Vilaça, a exemplo de seus antecessores, finge que trabalha, o pouco que resta daquele educandário é atacado pelas intempéries, e dos 54 alunos matriculados este ano, dez já fazem parte dos índices de evasão escolar, segundo o que apurou o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), por falta de merenda escolar. Por onde andam Vilaça e a “dupla dinâmica” da Secretaria de Educação, Pedro “Malasartes” Negrão e Ivana Ramos? Estarão sentados no trono de um apartamento com boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar? E o que dizer do titular da Secretaria de Agricultura, João da Costa Neves? Ter uma escola com apenas 44 alunos, divididos em quatro turmas, pelo ridículo da situação, seria pouco dar um atestado de incompetência a prefeito e secretários. Sem contar o fato de estar faltando merenda escolar. Deixar aluno com fome, e por ironia, numa escola agrícola? Sem comentários!

Se houvesse um pouco de inteligência e boa vontade por parte da prefeitura, a Escola Agrícola seria o ponto de partida para uma grande revolução no ensino público barcarenense. Num município com mais de cem mil habitantes e arrecadação superior a R$ 200 milhões, aquela instituição já deveria ter sido totalmente reformada, não apenas na sua estrutura, mas na forma de funcionamento. Por que não se produz merenda escolar naquele estabelecimento de ensino, pelo menos para atender parte da demanda? Por que não se planta macaxeira, açaí, milho, laranja, banana, manga, cupuaçu, hortaliças, etc.? Por que não se cria frangos, porcos, carneiros, vacas leiteiras, codornas, patos, abelhas? Por que não se produz farinha de mandioca, compotas de abacaxi, queijos caseiros, iogurte natural, mel de abelha? Por que não se instala um sistema de irrigação? Por que não se ensina, na prática, tudo isso? Por que aquela escola não tem um único trator? Por que não se amplia as turmas? A Escola Agrícola deveria ser um centro de referência, inclusive de pesquisa agropecuária. Infelizmente, o poder público cruza os braços, lava as mãos e fecha os olhos, e a Escola Agrícola continua a desaparecer no meio do matagal. Onde deveria se formar técnicos agrônomos, cresce erva daninha, ratos e cobras, sem falar das queimadas. Será que é isso que se pretende ensinar?

Se depender deste “Governo da Lambança”, a Escola Agrícola tende a desaparecer de vez do mapa de Barcarena, e por um motivo muito simples: ao invés de valorizar o ensino, Pedro Malasartes e Ivana Ramos, a exemplo do prefeito, preferem descumprir o acordo que fizeram com os profissionais da Educação, e chegam ao cúmulo de não dar as caras nas reuniões que eles próprios marcam com os professores, dificultando mais ainda a solução do impasse, o que pode, inclusive, provocar uma nova greve da categoria. Sendo assim, esqueça, que desse mato não sai coelho!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Reclamações Probispo

Não se sabe porque, mas Vilaça continua insistindo em privatizar o abastecimento d’água do município, sem discutir uma linha sequer do assunto com a sociedade. O pior é que apenas uma tal de AEGEA Prolagos está participando da licitação da concessão, o que, no mínimo, dá margem para desconfiar de que há algo de muito errado nesse negócio. Privatizar do jeito que quer Vilaça, certamente dará o seguinte resultado:

– Reclamações Probispo (Procuradoria Barcarenense Instituída para Solucionar Problemas Outros), bom-dia!
– O meu dia não está nada bom, porque não tomei banho hoje!
– Credo, senhor, que imundície! Mas afinal, o que é que eu tenho a ver com isso?
– O problema é que, desde ontem, estou sem água. Estou pagando uma conta absurda, e se antes ainda saía água, mesmo suja, das torneiras, agora não sai mais nada.
– Aqui é da Probispo. O senhor já reclamou na Prolagos?
– Reclamei ontem, da água suja.
– Que bom que eles já resolveram o problema, senhor!
– Como assim, resolveram o problema...
– Da água suja, senhor. O senhor está sem água, portanto não tem mais água suja.
– Mas eu quero água limpa. Disseram para o vereador Padre Carlos que no Rio de Janeiro essa empresa faz sair até água mineral das torneiras.
–Vai dizer que só porque falaram isso para o Padre Carlos, o senhor quer que saia água benta, agora... Na torneira sai água torneiral, senhor!
– Que diabo é isso, de água torneiral?
– Se saísse cachaça, seria água vegetal, senhor!
– Esquece água mineral, torneiral, vegetal, o escambau. Eu só quero água potável.
– Desculpe eu perguntar, mas assim, por acaso, o senhor já acessou o Google para saber a quantidade de gente reclamando da Prolagos, só lá no Rio de Janeiro? Sinto muito te dizer, mas o senhor entrou pelo cano.
– Como assim, entrei pelo cano? Não me falaram nada de gente reclamando no Rio de Janeiro.
– Pois então, senhor. É cobrança indevida, falta d’água, entre outras coisas. Por exemplo, o senhor já verificou se o seu hidrômetro não está marcando consumo quando só passa vento na tubulação? Agora mesmo deve estar acontecendo. Quanto mais falta água, mais a empresa lucra, entendeu, senhor?
– Então é por isso que eu estou pagando o triplo do que deveria. Mas acabo de decidir: não vou mais pagar.
– Mas o senhor tem que pagar.
– Por que eu tenho que pagar, se a cobrança é indevida?
– Para poder reclamar, senhor.
– Mas eu paguei até hoje, estou em dia, e você não está resolvendo o meu problema.
– E por que eu tenho que resolver o seu problema, senhor?
– Mas você não é da Probispo? O seu trabalho não é solucionar problemas?
– É como o nome diz, senhor: “Problemas Outros”.
– Como assim, problemas outros?
– Os do prefeito, por exemplo. Por falar nisso, se não pagar a conta, vou mandar cortar sua água.
– Grandes merdas, eu estou sem água mesmo! Vou puxar água do poço.
– O senhor não pode fazer isso, senhor.
– Eu sempre fiz isso.
– Não pode mais. Além disso, vamos continuar a cobrança, porque agora tem a taxa do esgoto.
– Que esgoto, se eu nunca tive esgoto.
– Tem esgoto sim, senhor. A céu aberto, mas tem. Sabe aquela infecção intestinal das suas crianças? Veio da vala, o que prova que tem esgoto, e vamos cobrar.
– Vou meter um processo nessa empresa e na prefeitura. Vou cobrar milhões!
– Não vá com tanta sede ao pote, senhor, porque desse pote não sai água. A empresa paga bons advogados, e essa sua ação nunca vai ter fim.
– Por que você não resolve logo o meu problema? Me disseram que era para eu reclamar na Probispo.
– O senhor deve ter entendido mal. Não é na Probispo. É pra reclamar “pro bispo”, senhor!

Precisamos dar um basta

Durante muito tempo, Henrica de Nazaré Poça Menezes sofreu violência dentro de seu próprio lar. Odenei Ferreira Araújo, com quem vivia maritalmente, e, portanto, de quem era de se esperar que lhe desse carinho e proteção, a tratava de forma desrespeitosa e violenta. Após sofrer calada durante anos, Henrica denunciou o seu algoz à Justiça, mas de nada adiantou, e em 14 de maio de 2009, foi cruel e covardemente assassinada com cinco facadas. Desde a morte de Henrica, sua mãe, Maria de Fátima Menezes, desgostosa com a forma brutal com que foi ceifada a vida de sua filha, passou a dedicar a sua própria em defesa de tantas e tantas outras mulheres barcarenenses que, a exemplo de Henrica, sofrem de violência doméstica. Foi assim que surgiu o MOVHEN (Movimento pela Vida – Viva Hen¬rica de Nazaré), entidade que vem lutando no sentido de dar amparo às mulheres barcarenenses, e pleiteando junto ao poder público para que seja criada no município uma delegacia especializada no atendimento à mulher.

Mesmo com o esforço enorme de Maria de Fátima, já se passou tanto tempo, a delegacia nunca foi instituída, e a violência contra a mulher continua crescendo, fato que levou Barcarena a fechar o ano passado ocupando, segundo dados do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (CEBELA), o 65º lugar no Mapa da Violência Contra a Mulher no Brasil, país, diga-se, já altamente violento, com 5.570 municípios. Por que a nossa sociedade é tão violenta, a ponto de constar de forma tão vergonhosa na planilha do CEBELA? Talvez uma das respostas esteja no fato de que o assunto não é tratado com a devida importância, tanto pelo poder público, em particular, quanto pela sociedade, de uma forma geral. Assim, convivemos com a violência, não apenas contra a mulher, mas contra tudo e contra todos, e pouco fazemos para mudar essa situação.

Em 30 de maio de 2012, o empresário José Humberto Souza do Nascimento foi assassinado, também a facadas, quando trabalhava em sua loja de confecções Stampas Modas, localizada na Vila dos Cabanos, por Alaf Santos Teixeira, que, na companhia de dois adolescentes, assaltou aquele comércio, em plena luz do dia. José Humberto, cidadão ordeiro e trabalhador, cheio de vida e de amigos, foi brutalmente assassinado, passando assim a ser mais um cidadão a fazer parte dos altos índices de violência.

O assassino de Henrica de Nazaré foi julgado e condenado em janeiro deste ano, recebendo pena de 42 anos e 7 meses de reclusão, em regime fechado. O assassino de José Humberto, após ter sido preso em flagrante delito e em seguida empreendido fuga, passando mais de um ano foragido, foi novamente capturado e está com julgamento marcado para acontecer na próxima quinta-feira, 12, na 3ª Vara Penal da Comarca de Barcarena, pondo fim a uma longa e dolorosa espera por parte da família da vítima, que não vê a hora que a justiça seja feita.

Precisamos, urgentemente, dar um basta, e combater com mais seriedade a violência em nosso município. Basta! Além de Henrica de Nazaré e José Humberto, muitas outras pessoas fazem parte da lista macabra de morte violenta em Barcarena. É importante que a sociedade barcarenense, de forma unida e organizada, cobre dos nossos políticos soluções para o problema. A cada eleição que passa, são muitas as promessas, e nada é feito. No último pleito, nos foi prometido uma grande mudança, onde, entre outras coisas, seria criada a Guarda Municipal, promessa que, a exemplo da Delegacia da Mulher, foi esquecida. Como não cobramos seriedade do poder público, acabamos sendo coniventes com políticos criminosos, que enriquecem às nossas custas, e dão risadas pelas nossas costas.