quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Exercício de cidadania

Tenho insistido, nesta coluna, em algo de fundamental importância para o desenvolvimento de Barcarena: a participação mais efetiva da sociedade no dia-a-dia político do nosso município. Embora detentores de um potencial econômico fantástico, temos sido, no decorrer da nossa história, vítimas de políticos incompetentes e dados à velhacaria e à rapinagem, que sempre se preocuparam com seus próprios interesses em detrimento da coisa pública, e que, administrativamente, seja por má vontade ou por incapacidade pura e simples, nunca se desafiaram a passar da mesmice, da mediocridade. No entanto, ao deixar de exercer plenamente a nossa cidadania, acabamos, por tabela, sendo também vítimas de nós próprios. A democracia não termina nas urnas. Infelizmente, a sociedade barcarenense, ao longo do tempo, quedou-se em um estado de letargia política que tem facilitado sobremaneira a ação de salteadores do erário, corruptos que, eleitos por nós, enriquecem às nossas custas e nos tratam com desprezo, oferecendo ao povo não mais a política do pão e circo, como acontecia na Roma antiga, mas a da migalha e água. Não é à toa que boa parte da população barcarenense vive abaixo da linha da pobreza, sem qualquer perspectiva econômica. Porém, essa inércia política da sociedade tem mudado.

Vejo com bons olhos o trabalho que Paulo Feitosa tem desenvolvido à frente do Instituto Barcarena Socioambiental (IBS). Com o apoio do deputado federal Arnaldo Jordy, a instituição de Feitosa tem feito reuniões com várias comunidades, e também com representantes do governo do estado, prefeitura e Ministério Público, no sentido de planejar ações e buscar recursos visando a implantação de um projeto sustentável de geração de trabalho e renda para comunidades afetadas pela poluição gerada pelas indústrias de mineração instaladas no município. Outra atribuição do IBS é a de fiscalizar o poder público, combatendo assim a corrupção.

Considero louvável o empenho de Paulo Feitosa, do deputado Arnaldo Jordy e de várias lideranças comunitárias, nesse que pode estar sendo um dos primeiros passos para que a sociedade venha a vencer essa apatia política que, década após década, tem nos relegado ao atraso. Tive oportunidade de estar presente em duas dessas reuniões do IBS, uma no prédio da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (SEICON), e outra na sede do Ministério Público Estadual. Pelo que aconteceu nesses dois encontros, ficou patente o desinteresse, principalmente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), que, convidada a debater a poluição ambiental que ocorre no território, não só de Barcarena, mais de municípios vizinhos, não mandou representante a nenhum dos eventos. Se não está havendo conivência criminosa, no mínimo negligência há por parte dessa secretaria. Isso, somado ao fato de que, tanto o governo do Pará quanto a prefeitura de Barcarena, não tem feito sequer um monitoramento periódico de como a região está sendo afetada pelos dejetos químicos lançados na natureza pelas indústrias de mineração e pelo porto de Vila do Conde, me leva a crer que o IBS não terá um caminho fácil a percorrer. Entretanto, o primeiro passo foi dado, e nós, que fazemos o Jornal O CIDADÃO, estaremos acompanhado de perto essa caminhada, mostrando à população barcarenense o desenrolar dessa luta, que é do interesse de todos nós.

Ao encerrar este artigo, parabenizo a todos aqueles que, tanto por parte da sociedade civil quanto do poder público, estão empenhados nessa peleja. Embora todos nós cidadãos tenhamos nossos afazeres e compromissos individuais, é preciso também pensar e agir coletivamente, de acordo com a possibilidade de cada um.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

As forças ocultas que nos controlam

Desde os primórdios da civilização, detentores do poder observam o comportamento humano e se utilizam desse conhecimento como forma de dominação. Com o decorrer do tempo, e do surgimento de urnas e campanhas eleitorais, políticos passaram a usar e abusar de técnicas cada vez mais avançadas de manipulação da sociedade, artificio que vai de discursos falaciosos (onde buscam sempre fugir de polêmicas e atingir o sentimento das pessoas, em detrimento da lógica) a promessas mirabolantes, sem que se tenha a mínima intenção de cumpri-las. Desculpando-me pela infâmia do trocadilho, o fato é que há mais mistérios entre o opressor e o oprimido do que julga a nossa vã democracia. No livro “O Instituto Tavistock – As forças ocultas que nos controlam”, o jornalista investigativo russo Daniel Estulin assevera (embora haja muita gente que afirme que a obra de Estulin não passa de “teoria da conspiração”), que o Tavistock Institute of Human Relations (em tradução literal, Instituto Tavistock de Relações Humanas), com sede em Londres, seja uma instituição voltada para, entre outras coisas, o estudo comportamental visando se obter novas e mais eficazes técnicas de manipulação de massas. Assim, quem estaria por trás do Tavistock teria à sua disposição o uso de estratagemas psicológicos avançadíssimos.

É certo que os políticos barcarenenses, assim como os de outros municípios interioranos Brasil afora, não têm acesso a todo esse arsenal psicológico, mas conseguem manipular boa parte da população local (em quantidade suficiente para manter o poder), fazendo uso de velhas técnicas de engodo. Além da profusão de discursos vazios e falsas promessas, uma das armas usadas por aqui é fingir ser oposição, quando na verdade se é aliado. Laurival Cunha caiu em desgraça? João Carlos Dias passa a ter o apoio do antigo “arqui-inimigo”. O povo já não suporta Dias? Chegou a vez de Antônio Carlos Vilaça fingir ser adversário de Laurival. Passada a eleição, quem “perdeu” fica com uma parte menor do bolo, mas continua comendo, e financiando o exército de apaniguados e pelegos que garantem a supremacia do clube dos espertalhões. Outra arma muito utilizada é deixar os eleitores sempre dependentes de pequenos “favores”. Quanto mais humilde e dependente seja o eleitorado, mais fácil fica a enganação, e qualquer cesta básica, ou uma simples promessa de emprego, ou ainda um tostão em dinheiro vivo, logo se transforma em voto. E o que fazer com outras dívidas de campanha, como asfalto, saneamento, segurança, etc.? Essas, são trocadas por outras, indefinidamente... Campanha após campanha, os políticos vão às ruas em busca de votos, com as mesmas estratégias, e conseguem enganar. Até quando?

Os poucos que não dependem de alguma forma da prefeitura, e que buscam se informar, não são suficientes para mudar esse quadro de horrores no qual o município foi transformado. Porém, as coisas podem sim mudar, mas isso se participarmos mais ativamente do dia-a-dia político. É preciso dizer basta, e reagir. Este ano tem eleições, e as mesmas promessas estão sendo refeitas. Se ficarmos calados, continuaremos a manter este estado de coisas que impedem Barcarena de se desenvolver. Mas podemos sim interferir. De certa forma, o fato de Barcarena ter um jornal crítico e independente como O CIDADÃO, circulando já há quase quatro anos, tem feito algumas coisas mudarem na cidade. É o poder da informação, que tem feito alguns estragos na antiga politicagem, e tem plantado a semente da reação contra a bandalheira institucionalizada que, embora ainda esteja acontecendo em nossa cidade, tem lentamente perdido a força. Se exercermos plenamente a nossa cidadania, ou seja, nossos direitos e deveres de cidadãos, e fizermos campanha contra a enganação, podemos deixar os atuais políticos sem voto e sem saída. A grande mudança está em nossas mãos.