sexta-feira, 29 de novembro de 2013

As trinta moedas

Dos vereadores eleitos no último pleito, apenas três são remanescentes da legislatura anterior, sendo que, de fato, somente dois estão exercendo mandato, uma vez que Ary Santos, que até chegou a ser eleito também presidente da Câmara Municipal, numa artimanha política em que ficou devendo “favores” ao colega conhecido na cidade pela alcunha, dada a sua prática constante de rapinagem, de Luiz Ladrão, ou de “Me Rouba”, foi afastado da presidência e do mandato, por ordem judicial, devido a reincidente malversação de dinheiro público.

Como resultado das eleições 2012, coube, aos demais parlamentares, o olho da rua. Assim, os cidadãos barcarenenses fizeram uma verdadeira renovação na Casa do Povo, e atualmente, temos naquela instituição dez novos vereadores contra dois antigos, uma goleada homérica. O resultado das urnas refletiu a indignação popular em relação ao descaso dos políticos que ocupavam o parlamento, que pouco se lixavam para quem os elegeu, o que fazia com que boa parte das sessões sequer tivesse quórum. Nas raras vezes em que se davam ao “esforço descomunal” de comparecer ao trabalho, usavam a tribuna em benefício próprio, mandando recadinhos malandros a uns e outros políticos, numa picaretagem explícita, exigindo favores em troca de apoio ou conivência. Legislar e fiscalizar, que é bom, nada.

Logo no início do atual mandato, os eleitos, novos e remanescentes, acharam por bem dar as caras em cada uma das únicas reuniões semanais daquela instituição, indicando então estarem dispostos a escapar de entrar na lista negra do eleitor, visto que o último pleito foi uma demonstração inequívoca de que o povo barcarenense está cada vez mais exigente, e impaciente com políticos preguiçosos e vigaristas. Ainda assim, foram duramente criticados por este Jornal, em função de apoiarem cegamente ao suspeitíssimo Antônio Carlos Vilaça, e de, por esse motivo, absterem-se de vigiar o novo prefeito, político este que, desde que assumiu o executivo municipal, tem dado provas claras de não ser muito afeito a prestar contas do erário público.

É bem verdade que, de uns tempos para cá, muitas coisas aconteceram naquele parlamento. Surpreendentemente, muitos dos nossos representantes acordaram e resolveram cobrar prestações de contas do executivo, dando sinal, pelo menos, de que resolveram cumprir com as obrigações inerentes ao cargo para o qual foram eleitos, com exceção de Luiz Ladrão, que achou por bem dar continuidade à sua carreira de velhaco. O sujeito, por sinal, quer por que quer assumir novamente a presidência da Casa, e voltar a manipular e malversar o caixa daquela instituição.

A história da Câmara de Vereadores de Barcarena é repleta de reviravoltas políticas, onde, em situações decisivas, parlamentares não pensam duas vezes em imitar o gesto de Judas Iscariotes, que traiu Jesus por trinta moedas de prata. A eleição para a presidência é uma dessas ocasiões. Muitas e muitas vezes, o eleito foi quem pagou mais, dinheiro que, naturalmente, cuidou de embolsar de volta e com “juros”, diretamente do caixa da Casa. Não quero aqui fazer prejulgamento, e afirmar que os atuais vereadores estejam dispostos a aceitar propina em troca de voto, e eleger um pilantra da laia de Luiz Ladrão para presidir o parlamento, causando assim um retrocesso político tão nefasto. Porém, caso isso venha a acontecer, vale lembrar a um possível afoito, que o mandato de um vereador tem prazo de validade, e que a malhação de Judas faz parte da cultura popular.

Queremos justiça!

Foi adiada para 12 de dezembro próximo, às 9 horas, na 3ª Vara Penal da Comarca de Barcarena, a audiência de instrução e julgamento na qual Alaf dos Santos Teixeira comparecerá em juízo pelo covarde assassinato que cometeu contra o comerciante Humberto Souza Nascimento, quando a vítima trabalhava na Stampas Modas, loja de sua propriedade, localizada na rotatória em frente ao Yamada, em Vila dos Cabanos. O assassino, em companhia de dois adolescentes, tentou assaltar o empresário, que, na tentativa de defender seu patrimônio, teve sua vida ceifada, barbaramente, a golpes de faca. O crime, perpetrado em 30 de maio de 2012, chocou a sociedade barcarenense, tanto pela crueldade do homicídio quanto pelo fato de que a vítima sempre foi um cidadão batalhador e muito benquisto na cidade.

Desde aquela data fatídica, a família de Humberto, enlutada pela trágica morte de um ente querido, luta por justiça, luta essa até aqui cheia de percalços, haja vista que, dos três agressores, dois, por serem menores de idade, escaparam de ir a julgamento, e o réu Alaf Teixeira, autuado em flagrante delito e encaminhado para a prisão no município de Abaetetuba, empreendeu fuga dez dias após sua captura, causando, não apenas na família da vítima, mas em toda a sociedade, uma amarga sensação de impunidade. Após ter passado mais de um ano foragido, o criminoso foi novamente capturado por agentes do 14º Batalhão de Polícia Militar, devendo finalmente ser julgado.

Na manhã da segunda-feira, 19 de novembro, certos de que, marcada para aquele dia, aconteceria a audiência onde Alaf Teixeira finalmente sentaria no banco dos réus, parentes e amigos da vítima compareceram ao Fórum da Comarca de Barcarena, empunhando faixas de repúdio ao facínora e vestindo camisas estampadas com a frase “Queremos justiça!”. Infelizmente, o Tribunal de Justiça havia convocado a magistrada Ângela Graziela Zottis, que responde pela 3ª Vara Penal, para auxiliar a Comarca de Paragominas, e a audiência, inexoravelmente, teve que ser remarcada, o que acabou por frustrar a família e os amigos de Humberto, assim como a todos os cidadãos barcarenenses, que aguardam ansiosos o momento em que o assassino responderá pelo seu crime.

Barcarena, assim como as demais cidades brasileiras, vive uma situação esdrúxula de violência, onde criminosos passeiam livremente, enquanto os cidadãos de bem se veem condenados a permanecer encarcerados, sob grades que se tornaram imperativas em portas e janelas de seus próprios lares. Para nós, que respeitamos as leis do País, sair às ruas pode significar decretar a si próprio a pena de morte.

Se faz necessário que o Estado estabeleça tolerância zero contra o crime, seja ele de homicídio ou de corrupção, modalidade delituosa que, embora não diretamente, também atenta contra a vida. Lugar de assassino é na cadeia. É hora de nossos representantes no Congresso se perguntarem, a respeito de menores infratores: deve ser sujeitado apenas a medidas socioeducativas alguém capaz de um ato extremo como atentar contra a vida de um ser humano? E o que dizer de adolescentes que são recrutados pelo narcotráfico, pelo simples motivo de que, por estarem na condição de menores, podem cometer todo tipo de delito? Será que não estamos vivendo sob leis ultrapassadas, que prejudicam até mesmo os próprios menores, quando muitos deles, sentindo-se refugiados numa lei antiquada, se emprenham de coragem para cometer um crime? É preciso reagir com firmeza a essa violência absurda que tomou conta de nossa sociedade.

sábado, 16 de novembro de 2013

A locomotiva do fracasso

O titular importado da Secretaria Municipal de Planejamento e Articulação Institucional (Sempla), Alberto Pereira Góes, primo e ex-secretário do ex-governador do Amapá que foi preso na Operação Mãos Limpas em 2010, Waldez Góes, acusado do desvio de R$300 milhões (Alberto era um dos 69 Góes que se alastraram como um câncer nos mais variados órgãos daquele governo campeão do nepotismo), cessou de alardear ter feito o milagre de reduzir a robusta dívida que Barcarena tem com o Governo Federal, de R$248 milhões para apenas e tão somente R$92 milhões, depois que o Jornal O CIDADÃO, na edição 153, de 1 a 7 de junho último, deslindou para a sociedade o fato de que, nem mesmo se a presidente Dilma Rousseff morresse de amores pelo secretário “Pikachu das Galáxias”, a mágica não poderia acontecer, simplesmente porque, por lei, somente o Congresso Nacional tem competência para conceder anistia de dívida previdenciária a ente federativo. Por outro lado, se a “mateMÁGICA” houdiniana de Góes não resistiu à prova dos nove, ele ainda continua, no que é acompanhado por Antônio Carlos Vilaça e vários outros secretários, a prometer trazer para o município o equivalente a vagões lotados de dinheiro, diretamente de Brasília, onde, segundo eles, amigos influentes dariam conta de privilegiar o “guru da articulação institucional” – uma grana fabulosa, que nem mesmo o célebre assaltante do trem pagador inglês, Ronald Biggs, daria conta de levar. Ocorre que os amigos influentes não tiveram competência nem mesmo para evitar que as obras do trecho da Ferrovia Norte-Sul, que vai da cidade maranhense de Açailândia ao porto de Vila do Conde, saíssem da pauta de prioridade do Governo Federal, passando agora ao último lugar da fila, levando Barcarena a amargar prejuízos incalculáveis. Se as promessas milionárias de Góes e Vilaça não fossem meras falácias, e esse tão fanfarreado dinheiro viesse de trem, iria faltar trilho.

A estrada de ferro minguou, mas por aqui continua a circular o “trem da alegria”, carregado com o caixa dois, porquinho parrudo nascido e engordado pelos impostos municipais, para felicidade de dez entre dez políticos corruptos, e para tristeza da população, que permanece desassistida, e vendo obras como a do Hospital Materno Infantil se arrastarem, e outras como a do muro de arrimo da orla de Barcarena-Sede se desfazerem, resultado de tanto desvio de dinheiro público. Por sinal, obras com verbas vindas de fora, o que nos dá a medida do que aconteceria se o governo Vilaça conseguisse realmente trazer algum. Os cifrões beneficiariam a quem?

A verdade é que os nossos políticos nunca tiveram habilidade nem influência para trazer melhoramento para a cidade, e o que conseguimos, tal qual o Porto de Vila do Conde e as indústrias de mineração, foi por vontade e iniciativa externas, ou seja, por pura sorte. Aliás, sorte que não nos tem beneficiado como deveria, uma vez que os impostos que arrecadamos, decorrentes desses projetos que nos chegaram por vontade alheia, verba que ultrapassa R$200 milhões anuais, somem, viram fumaça, por culpa dos políticos daqui, que nos roubam na cara dura, e de nós próprios, que nos deixamos roubar. Para piorar, ficamos com os problemas inerentes a indústrias e portos, a exemplo de prostituição infantil, criminalidade e destruição do meio ambiente, malefícios que fazem parte do pacote, e que político algum faz nada para atenuar.

O tempo passa, o tempo voa, e o fato é que, se não fosse a incompetência dos nossos mandatários, não digo nem para trazer novos recursos, mas para gerir o que já ganhamos por obra do acaso, e não fosse a sanha por dinheiro público, roubalheira desenfreada que, diga-se, eles sabem fazer muito bem, o município seria outro. Assim, temos uma prefeitura e um parlamento que sequer são localizados em sede própria, e arcamos com aluguéis de prédios dos próprios políticos, que, por zombaria da casa da mãe Joana, compraram tais imóveis com dinheiro vindo, adivinha de onde!

sábado, 9 de novembro de 2013

O rei da “mu dança”

Durante a campanha que o levou à cadeira de prefeito, Antônio Carlos Vilaça prometeu mundos e fundos aos eleitores do município, que, por sua vez, cansados de décadas de desgovernos anteriores, decidiu dar uma chance ao que poderia vir a ser o salvador da pátria barcarenense. No entanto, antes mesmo de ser eleito, Vilaça andou tomando algumas aulas com o coreógrafo Coisinha de Jesus, e se empolgou geral com o moonwalk, passo de dança criado por Michael Jackson, onde o rei do pop, fingindo dar passos à frente, anda para trás. Desde então, o novo prefeito se transformou no Vil Jackson, o rei da “mu dança”. E não adianta reclamar, dizer que, quando candidato, Vilaça prometeu fazer o tão sonhado “governo da mudança”. Ninguém entendeu, mas ele se referia à “mu dança”, assim mesmo, duas palavras, que no vocabulário do prefeito bailarino, é quando a cidade anda indefinidamente para trás, feito curupira. E para quem pensa que isso é tudo, é hora de saber que Vil Jackson, fã incondicional do acusado de pedofilia norte-americano, está preparando o palco para Barcarena dançar o show “Thriller”, que em tradução literal, significa “terror”.

Ninguém entendeu o que levou Vil Jackson, logo no início do mandato, a decretar estado de calamidade pública no município. Teve até uma gente maldosa dizendo que o tal decreto servia tão somente para o alcaide meter o mãozão nos cofres públicos. Quanta maledicência! Para o rei da “mu dança”, trata-se apenas de um decreto thriller, afinal de contas, calamidade e terror tem tudo a ver. Aliás, escolas abandonadas, ameaçando ir ao chão, quer algo mais thriller?! Hospitais com paredes rachadas, ambulâncias sem as mínimas condições de funcionamento, tudo thrillerésimo! Ruas cada vez mais esburacadas e sem iluminação pública, o palco thriller está montado! E o que dizer do Festival do Abacathriller? Afora o detalhe insignificante de a grana arrecadada ter caído no colo da “mulher do prefeito”, e de até hoje não se saber o total do faturamento nem das despesas, a prefeitura, mesmo sem prestar contas, jura que deu prejuízo, ou seja... Thriller!

E pensar que o nosso prefeito caranguejo teve todo o cuidado de se cercar de secretários da mais alta “competência”, importados sem o menor compromisso com a cidade, mas todos eles executivos especialistas. Maurício Bezerra, por exemplo, é médico. É certo que não fez funcionar que prestasse os hospitais do município, mas se deixou um rombo nas contas da Saúde, é porque não é contador. Além do mais, Vil Jackson resolveu mudar, e por à frente da Secretaria outro especialista, o advogado José Quintino Junior. Com tanto caso escabroso acontecendo nos hospitais, vai que alguém decide entrar na Justiça contra a prefeitura... Na Educação, Pedro Negrão, um professor de geografia, visitou, segundo ele, o município inteiro. O ensino público barcarenense piora a cada dia, mas não se pode dizer que Negrão não conheça a geografia de Barcarena, pelo menos o suficiente para encontrar o caminho de volta para Abaetetuba, tão logo o prefeito thriller não mais souber o que fazer com o buraco nas contas da Semed.

Em todos os cantos da cidade, o que mais se vê é gente reclamando da “mu dança”, e insistindo em andar para frente. Gente intolerante, que chega ao cúmulo de fazer barricada, protesto, só porque a cidade está, cada vez mais, digamos assim, um terror. Será que ninguém entende a coreografia inovadora de Vil Jackson? Mas não há de ser nada, pois o astro do bailado está decidido que para trás é que se anda, e não está nem aí com a indignação da plateia. Inclusive, já se mudou para Belém, que é para ficar bem longe dos revoltosos. Assim, quem quiser protestar e ser ouvido, que atravesse a baía.

Lição de cidadania

Das manifestações que ocorreram na quarta-feira, 30, quando moradores de comunidades localizadas entre Barcarena-Sede e o porto do Arapari mantiveram, desde o início da manhã até o final da tarde, o município inteiro sitiado, um fato me chamou a atenção. Embora não se trate de pessoas com acesso fácil a Facebook, Twitter ou outra modernidade do mundo digital, que pudesse, com seus banners e palavras de ordem, motivar e organizar os participantes, esses audaciosos barcarenenses se manifestaram de forma abrangente e impecável, e deram um banho de cidadania. Ao contrário do que aconteceu nos protestos que, recentemente, pipocaram Brasil afora, no da quarta-feira havia uma pauta de reivindicações muito bem definida. Foram dez comunidades unidas em torno de uma agenda única de exigências, e todos os manifestantes resistiram bravamente às muitas pressões que aconteceram no decorrer de horas e horas de rodovias e ramais interditados, em todos os pontos onde fizeram barricadas. Caboclos dos bons, formados na universidade da vida, organizaram-se como se fossem engajados cara-pintadas liderados por sociólogos diplomados na USP, e de forma ordeira e pacífica, não se vergaram a nenhum tipo de ameaça nem tentativa de suborno.

Asfaltamento de um trecho de estrada que está intrafegável; lombadas e sinalização em outro trecho, que diminua os constantes acidentes; muro em uma das escolas da região, de forma a dar segurança para as crianças que lá estudam; iluminação pública nas comunidades; e mais atenção à Saúde e à Educação. A lista é extensa, por obra e graça do poder público, que, há anos, vem virando as costas para a população do município inteiro, principalmente para essas comunidades mais distantes. E é importante dizer que poder público não se restringe ao executivo. Durante o dia inteiro de manifestação, não se teve notícia de um único vereador disposto a comparecer ao local. Será que, durante as eleições, nenhum deles pediu voto por aquelas bandas?

Pelo que foi visto nos protestos da quarta-feira, é bom que o prefeito Antônio Carlos Vilaça pare de se esconder, como já fez antes, quando moradores da Rua João Gaia, em Barcarena-Sede, foram vitimados por uma tempestade que inundou toda a área, e tiveram suas casas invadidas pela água e pela lama, enquanto Vilaça, numa demonstração de total falta de solidariedade, se pirulitou para o seu flat em Belém, e no dia seguinte mandou que reclamassem para São Pedro, como se a culpa fosse da chuva e não do caótico saneamento básico da cidade. É bom que Vilaça caia na real e decida resolver o problema, ao invés de mandar dois secretários despreparados tentar enrolar manifestantes. Até porque, as comunidades de Ama, Bacuri, Belo Horizonte, CDI, Embrasa, Patauteua, Santa Maria, São Luiz, Taupuranga e Turuí não estão pedindo favor, mas reivindicando direitos. Não adianta criar expectativas, dizer que até o fim do seu governo vai conseguir bilhões em Brasília, que no futuro Barcarena vai ser transformada num paraíso. Não adianta mandar oferecer quentinha para quem luta por respeito. Não adianta mandar secretário “importado” dizer para a população que ele desconhece os problemas do município. É preciso ter a coragem de aparecer pessoalmente, dar as caras, discutir prioridades, e colocar mãos à obra.

Cada um dos cidadãos que participaram do protesto da quarta-feira está de parabéns! O que eles fizeram foi uma lição de cidadania! Pacificamente, os manifestantes mostraram que Barcarena já não aceita promessas vãs. Os cidadãos barcarenenses, assim como seus antepassados cabanos, estão decididos a lutar por uma vida digna, e nem mesmo paus e pedras vão demovê-los da batalha.