sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Conhecereis a verdade


Está nas Escrituras (João 8:32): “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A frase, dita por Jesus a um grupo de Judeus em frente ao templo, certamente tem um sentido muito mais amplo, muito mais profundo, mas é um ensinamento que podemos utilizar também no nosso dia-a-dia. No dia-a-dia político, inclusive. 

Nas eleições deste ano, temos quatro candidatos numa briga de foice pelo cargo de prefeito, além de centenas se engalfinhando para ocupar uma das treze vagas disponíveis na Câmara de Vereadores. Na busca desenfreada pela preferência do eleitorado, promete-se de tudo. Entretanto, se eleitor tem memória fraca, urnas passadas não movem políticos. Se pelo menos 10% do que se promete em campanha virasse realidade... Porém, uma vez eleitos, os promesseiros se transformam em hábeis fabricantes de desculpas, as mais esfarrapadas. A da falta de verba é a preferida.

Candidatos prometem de tudo, menos transparência nas contas públicas. Dos quatro candidatos a prefeito, nenhum assumiu, em suas propostas de governo, o compromisso de cumprir a Lei Complementar 131, que manda disponibilizar, em tempo real, na internet, informações pormenorizadas e atualizadas sobre as receitas e despesas do poder público. Vilaça, pelo menos, ainda falou em prestação de contas. Já Laurival, Luziane e Walmir Bastos sequer mencionaram o assunto. Barcarena tem orçamento anual de mais de R$ 200 milhões. É muita grana! Precisamos conhecer a verdade, saber o que verdadeiramente é feito dessa dinheirama toda. Ruas sem asfalto, esgoto a céu aberto, além de tantos outros problemas, tudo tem cura, desde que se aplique o remédio da transparência. Enquanto a verdade não vier à tona, no entanto, vai ser difícil. Continuaremos vítimas, não da falta de verba, mas da mentira e da enrolação, moléstia comum em políticos pilantras.

Vítima do desmando


Estava escrevendo o artigo desta semana, sobre como o esporte pode mudar a vida das pessoas. Pretendia falar de Jaqueline, jogadora do vôlei brasileiro, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, atleta que tive a oportunidade de ver atuar no Sport Club do Recife, quando ela, ainda adolescente, estava iniciando na carreira, época em que este articulista era responsável pelo jornal daquele clube. Estava escrevendo o artigo desta semana quando fiquei chocado com a notícia de que outra Jaqueline, também atleta, goleira da equipe da Alunorte Rain Forest, foi brutalmente assassinada em frente à Escola Laurival Magno Cunha, na Vila dos Cabanos, instituição onde a vítima era estudante.

Escola Laurival Magno Cunha. O nome em si já é um acinte, uma vez que fere o principio da impessoalidade na administração pública, descumprindo a Lei Federal 6.454, que proíbe atribuir nome de pessoa viva a bem público. A Escola, que leva o nome do ex-prefeito que, inclusive, é novamente candidato ao cargo nestas eleições, retrata bem o desmando com que o poder público barcarenense trata o município, desmando que leva, entre outras coisas, a este estado de violência generalizada. A propósito, é tanta violência envolvendo a Escola, que até parece maldição. No momento do ato de crueldade que levou à morte a estudante Jaqueline, a Polícia Militar havia sido acionada, e se encontrava nos arredores, para impedir, segundo informou a PM e a diretoria da Escola, que um grupo de adolescentes armados invadisse a instituição e matasse outro aluno.

A bem da verdade, Jaqueline foi vítima não apenas da monstruosidade de uma mente assassina, mas também da impunidade que leva criminosos a acreditar que podem tudo. Vivemos à mercê de bandidos da pior espécie. Enquanto traficantes de drogas e traficantes de armas tomam conta das ruas da cidade, traficantes de influência, esses últimos, tão bandidos quanto os outros, eleitos por nós, ocupam os prédios públicos do município e se fartam do dinheiro do contribuinte. Combate à criminalidade? Nunca ouvi dizer que criminoso combate criminoso, a não ser em guerrilha de facção!

Em se plantando, tudo dá!


Já faz algum tempo, o mundo vem discutindo formas renováveis de energia. De Nova York a Tóquio, de Brasília a Cingapura, novas fontes de energia, tais como a eólica e a solar, além de matrizes mais limpas que possam substituir combustíveis fósseis mais diretamente, como é o caso do gás metano, do etanol e do biodiesel, estão na pauta de discussões. Esse assunto, que envolve bilhões de dólares investidos em pesquisa e produção, mundo afora, tem tudo a ver com a agricultura de Barcarena. Isso mesmo, esse assunto tem tudo a ver com a agricultura de Barcarena, embora o nosso município não dê muita importância ao fato. Por aqui, nem se fala nisso.

O Brasil, um dos primeiros países a produzir álcool combustível em escala comercial, atualmente tem investido pesado em biodiesel. O Pará é o estado brasileiro que mais produz dendê (matéria-prima do biodiesel que apresenta a maior produtividade por área cultivada - até 8 toneladas de óleo por ha/ano - segundo o site biodieselbr.com) e essa produção se dá no Baixo Tocantins, mais precisamente nos municípios de Tailândia, Tomé-Açu e Mojú. Ora, Barcarena, que também está situada no Baixo Tocantins, tem basicamente o mesmo clima e solo dos referidos municípios, ideais para o cultivo do dendê, com a vantagem do Porto de Vila do Conde, o que facilitaria o escoamento. Por que não produzimos essa oleaginosa por aqui? 

Não sou muito favorável a se ocupar áreas extensas com monocultura, mas o dendê, além de ser espécie perene, pode ser plantado em pequenas propriedades, em áreas degradadas, por meio da agricultura familiar. Inclusive, existe financiamento para isso. O Governo Federal disponibiliza linha de crédito através do Pronaf (até R$ 80 mil por agricultor, sendo R$ 8 mil por hectare, com taxa efetiva de juros é de 2% a/a e seis anos de carência). Isso me faz lembrar de Pero Vaz de Caminha, que teria escrito ao rei Dom Manuel: “Aqui nesta terra, em se plantando, tudo dá”. Pois é, mas só para ficar bem claro... Em se plantando!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Memorial do descaso


Aproveito o ensejo da campanha eleitoral, momento em que se discute o futuro do nosso município, para falar sobre... o passado. Assim o faço, na premissa de que, sem dar a devida atenção à história, não existe a menor chance de se construir um futuro decente, de prosperidade.

O Brasil inteiro já ouviu falar da Cabanagem, um dos mais importantes movimentos revolucionários já ocorridos no País. Personagens como Batista Campos, Eduardo Angelim, Francisco Vinagre, Clemente Malcher e outros dão nome a ruas e avenidas de Barcarena, município que foi palco da revolução. No entanto, nominar logradouros é tudo o que a cidade faz pela sua história.

Em janeiro de 1985, os restos mortais do advogado, jornalista e cônego José Batista Gonçalves Campos, mentor da insurreição, assim como os de Eduardo Francisco “Angelim” Nogueira, um dos principais lideres da revolta, foram levados para Belém e depositados no Memorial da Cabanagem, obra do renomado arquiteto Oscar Niemayer, com cripta da artista plástica italiana Marianne Perretti (autora dos vitrais do Memorial a JK, em Brasília). Acontece que o tempo passou, e o Memorial da Cabanagem foi completamente abandonado, e acabou por se transformar num lugar onde viciados fumam crack, urinam, defecam e cospem. É muita humilhação!

Precisamos respeitar o nosso passado, e trazer de volta à Barcarena os restos mortais desses dois grandes heróis da Cabanagem. Certamente, ao fazê-lo, estaremos também resgatando o espírito de luta que os levou à grandeza de uma revolução popular capaz, na época, de enfrentar o império, espírito esse que tanto faz falta na Barcarena de hoje.