sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Está chegando a hora do troco

Quando veio de Abaetetuba e assumiu a Secretaria Municipal de Educação, Pedro Negrão “Malasartes” trouxe em sua bagagem vários processos por improbidade administrativa movidos pelo Ministério Público Federal, quando secretário em sua cidade de origem, fato que, após ter sido noticiado neste Jornal, o levou à Câmara de Vereadores e a uma rádio da cidade, numa tentativa frustrada de se explicar. Segundo ele, os desvios de verbas dos quais é acusado aconteceram porque o então prefeito abaetetubense, Chico Narrina, também conhecido como “Prefeito Bermuda”, não gostava nem um pouco de formalidades, e fazia pouco caso da Lei das Licitações, costume, por sinal, aplaudido por Malasartes, conforme declaração do próprio: “O assado, o cozido e o frito, todo mundo come”, zombou o “Mala”, explicando que licitações devem ser temperadas com o condimento da malandragem, já dando mostras de que pretendia enfiar goela abaixo dos barcarenenses a mesma gororoba fraudulenta que cozinhava em Abaetetuba. Antônio Carlos Vilaça, que havia acabado de assumir o mandato de prefeito por aqui, e que foi quem nos “presenteou” com a vinda de Malasartes, ao invés de tomar providência, o manteve no cargo. Foi então que o debochado secretário deu início à implantação, por estas plagas, do seu sistema administrativo, começando por não afixar placa indicando custo na meia dúzia de “obras” e reformas capengas que executou.

Vilaça, empresário do ramo de construções, havia acabado de prometer, durante a campanha que o levou à prefeitura, transformar Barcarena num canteiro de obras. Foi assim que os “puxadinhos”, como ficaram depois conhecidas as obras irregulares de Malasartes, foram alardeados pelo prefeito como sendo o início das grandes realizações prometidas. O problema é que, além de ninguém saber quanto custou cada “realização”, nada do que foi feito presta. Uma dessas “obras”, a conclusão da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Sacaia, no Cafezal, que havia sido iniciada no governo João Carlos Dias, e que foi gabada como obra do novo governo, nem mesmo completou um ano de inaugurada, e já ameaça cair. Resultado: As crianças que estudavam na Escola do Sacaia foram obrigadas pelo “Governo da Mudança” a se mudarem para um barracão improvisado, que nem parede tem, lembrando a música “A Casa”, de Vinicius e Toquinho: “Era uma casa muito engraçada / não tinha teto, não tinha nada”.

Está na hora da sociedade dar uma resposta a todo esse engodo. Ao invés de aceitar passivamente os desmandos desse governo, é hora de cobrar uma ação mais enérgica do Ministério Público, no sentido de exigir que a prefeitura apresente quem é o responsável pela obra, o registro do projeto e da execução junto ao CREA, e quanto custou essa brincadeira de mau gosto. Mais que isso, é preciso saber quem vai pagar o prejuízo. É certo que a Justiça brasileira é lerda, mas essas providências são necessárias.

Também vale lembrar que estamos em ano eleitoral. Começou a temporada de caça aos votos, período no qual os políticos distribuem sorrisos e tapinhas nas costas. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará – Sintepp, Vilaça e o seu vice Renato Ogawa, principais responsáveis pela enganação, estão agora, já visando as eleições deste ano, passando de escola em escola, levando a tiracolo a secretária adjunta de Educação, Ivana Ramos, e mais um pedreiro, um mestre-de-obras e um eletricista, prometendo, mais uma vez, fazer reformas em toda a rede municipal de ensino. Chega de ser chamado de trouxa. Essa é a hora do troco, a hora de dizer não para todo e qualquer político que tenha algum vínculo com esse governo ou com os governos anteriores.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Formadores de opinião

Certa vez, um português atravessava, na companhia de um ribeirinho, um largo rio da Amazônia. Cheio de empáfia, Dr. Manoel, PhD em Filosofia pela Universidade de Coimbra, fazia altas explanações filosóficas e metafísicas, enquanto o canoeiro remava calado. Lá pelas tantas, já incomodado com o silêncio do outro, que não discordava de nada, mas também não concordava com coisa alguma, Dr. Manoel achou de perguntar:
– Diga-me uma coisa: estudaste, em algum momento da tua existência, a respeito de Aristóteles?
– Não sinhô, seu doutor – respondeu o caboclo.
– Vejo que perdeste boa parte da vida! E sobre Platão, o que sabes?
– Sei nada não, seu doutor.
– Vejo que perdeste boa parte da vida! Mas afinal, diga-me então o que sabes sobre filosofia, matemática, economia?
– Nem ao menos sei escrever meu nome, seu doutor, quanto mais...
– Vejo que perdeste boa parte da vida! – repetiu, mais uma vez, o intelectual portuga.
Voltou o silêncio. Minutos depois, quando já estavam no meio da travessia, a água a entrar pela rachadura que havia no velho casco da pequena embarcação, o caboclo então indagou:
– O sinhô sabe nadar, seu doutor?
– Nunca tive tempo para isso, oh gajo.
– Pois eu sinto te dizer, mas a canoa tá afundando, e vejo que agora o sinhô perdeu foi TODA a sua vida!


Moral da história: por mais conhecimento que alguém possa ter, nunca se sabe tudo, e sendo assim, não se deve menosprezar a sabedoria dos mais simples.

Se trocar experiências é indispensável para nos desenvolver enquanto indivíduos, quando se trata da evolução da sociedade como um todo, apurar o nosso senso comum é tão necessário quanto. É esse o papel do chamado “formador de opinião”, que, segundo o Aulete, trata-se de “Pessoa ou elemento transmissor de informação ou opinião capaz de influir na opinião do público sobre um assunto, na formação de critérios, valores etc.”. Refere-se o dicionário a políticos, sindicalistas, jurisconsultos, jornalistas, escritores, articulistas, publicitários, artistas, professores, etc., e num sentido mais amplo, a jornais, revistas, rádios, canais de televisão, internet, ou seja, à mídia de uma forma geral. No entanto, penso que, do presidente da República ao mais humilde trabalhador braçal, formadores de opinião somos todos nós. Significa dizer que, se na cidade ou no país em que vivemos, o poder público deixa a desejar, não podemos, simplesmente, dizer que a culpa pertence apenas aos políticos, ou, indiretamente, à parcela mais carente da população, onde pessoas trocam voto por favores pessoais ou dinheiro vivo, alimentando assim o círculo vicioso da miséria. Se pretendemos viver em uma sociedade mais justa, devemos, ao invés de dar a questão por insolúvel, enxergar os problemas vividos pelas comunidades menos favorecidas como sendo problemas também nossos. Precisamos então, de alguma forma, buscar mudar a opinião daqueles que, por ignorância, desvirtuam o sentido da democracia. Mais que isso, precisamos também, cada vez mais, aprimorar o nosso senso crítico. É certo que a grande maioria dos cidadãos tem suas ocupações, e pouca gente tem algum tempo disponível para, por exemplo, reunir um grupo de pessoas, ou visitar comunidades. Porém, todos nós podemos, e devemos, cultivar o hábito de discutir política, pelo menos com as pessoas ao nosso redor, algo que também é importante, afinal, opiniões correm de boca em boca. Não afirmo que política deva ser nosso único assunto, mas comentar acontecimentos, opinar a respeito, tem que fazer parte do nosso cotidiano.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Frustração e expectativa

Na semana anterior, escrevi, de forma equivocada, que, “politicamente, 2014, para Barcarena, foi o ano da frustação”. Na verdade, eu quis me referir ao ano de 2013. Peço desculpa.

Volto agora a falar sobre o ano que passou, aproveitando carta endereçada a este Jornal pelo leitor Jhonas Pinheiro, morador de Barcarena-Sede (publicada na página 2 desta edição), que reclama que nosso município segue a mesma tarifa de transporte público urbano de Belém, uma vez que nós barcarenenses não usamos planilhas de custos para discutir reajuste, e ao invés disso, meramente seguimos os preços alheios. Ao reclamar, Pinheiro tornou-se voz de milhares de pessoas que, diariamente, fazem uso das vans das cooperativas que circulam, de forma desordenada e sem qualquer tipo de fiscalização, pelas ruas da nossa cidade.

É fato. Barcarena apenas copia e cola dos belenenses, tal qual aluno preguiçoso fingindo fazer pesquisa na internet. Repetimos o valor da tarifa dos ônibus que trafegam na capital, simplesmente porque não possuímos sequer transporte público regulamentado, e, portanto, não temos um conselho de transporte que pudesse analisar e discutir uma planilha, se ela existisse. Venho, já há bastante tempo, travando batalha árdua para que o poder público municipal regulamente o transporte, uma vez que o prejuízo por manter tudo do jeito que está é muito grande. Porém, tanto o executivo quanto o legislativo sempre preferiram sair pela tangente, ora se fingindo vítima de perseguição, ora transferindo responsabilidade um para o outro, ora fazendo ouvido de mercador. Falei pela primeira vez sobre o assunto ainda na gestão de João Carlos Dias, em fevereiro de 2011, ocasião em que o agora afastado pela Justiça, vereador Ary Santos, havia sido encarregado pela Câmara Municipal para tratar do tema junto ao Ministério Público, e que, acuado, afirmou que até o final daquele ano, tudo estaria resolvido. A partir de 2012, passei a cobrar o cumprimento da promessa, e Santos primeiro se fingiu de morto, depois se disse injustiçado, e por fim, nem ele nem ninguém no parlamento ou na prefeitura moveu uma palha seca para solucionar a questão.

A última vez que eu comentei sobre essa matéria aqui na coluna foi em setembro do ano passado. Fiz, naquele momento, um elogio ao vereador Padre Carlos, que havia se mostrado, da tribuna do legislativo, ciente da importância da questão do transporte, embora ele não tenha se comprometido formalmente em abraçar a causa. Faço então agora um desafio ao legislador, haja vista a importância do assunto. Possuir um transporte regulamentado significa, como bem diz Pinheiro em sua carta, ter uma tarifa justa e definida através de planilha de cálculo que reflita nossa realidade, o que certamente nos daria um preço mais baixo, uma vez que a Região Metropolitana de Belém compreende área que vai do Ver-o-Peso até a Ilha do Mosqueiro, passando por diversos municípios. Mais que isso, significa também ter veículos menos desconfortáveis, com horários definidos, coisa que é muitíssimo importante para quem faz uso de transporte público e tem horário certo para chegar ao trabalho ou a algum outro compromisso. Além disso, para regulamentar o transporte não é necessário grandes verbas, embora seja uma tarefa que requeira muita dedicação. Vereadores, no entanto, ganham para trabalhar, e sendo assim, em 18 de fevereiro próximo, a Câmara, já em sessão ordinária, volta do recesso, e eu, fazendo coro com Jhonas Pinheiro e mais milhares de pessoas, aguardo um compromisso de Padre Carlos sobre a regulamentação do transporte. O desafio está lançado.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Nem tudo está perdido

Politicamente, 2014, para Barcarena, foi o ano da frustação. O governo Antônio Carlos Vilaça se revelou tão desastroso, que muita gente já começou a contagem regressiva para se ver livre do antigo “salvador da pátria barcarenense”, mesmo que ainda falte três anos para que isso aconteça. Entretanto, para um município que acumula décadas de problemas e frustrações, esperar, simplesmente, não é uma boa solução. Mesmo porque, se Vilaça vem fazendo uma gestão tão ruim, as coisas podem melhorar ou piorar, a depender não do prefeito, mas da sociedade. É hora, portanto, de pensarmos o que levou o nosso município a esse caos administrativo, e o que, nós, cidadãos, podemos fazer para mudar, a nosso favor, o rumo dos acontecimentos.

O que faz de uma cidade com potencial extraordinário como Barcarena um lugar tão caótico e cheio de mazelas e pobreza? Será, simplesmente, por culpa dos políticos que elegemos? Não dá para se dizer que tudo se resume em não sabermos escolher, até porque, muitas vezes, as opções que temos na hora da eleição, de tão ruins, faz muita gente se revoltar e pensar em anular o voto, coisa que, é claro, por uma questão de lógica, também não resolve absolutamente nada. Na verdade, eleição após eleição, somos presas fáceis de marqueteiros de plantão, profissionais da falácia a serviço de políticos mal intencionados, que usam e abusam de promessas vãs. A cada pleito, caímos na conversa furada de sempre, e ficamos, mais uma vez, anos a esperar por uma nova oportunidade de escolha. Nas últimas eleições, Vilaça prometeu a grande mudança, coisa que, já deu para perceber, por vontade dele não vai acontecer. Não será então a hora de fazer acontecer por vontade nossa?

Para chegar à cadeira de prefeito, Vilaça prometeu, entre muitas outras coisas, um centro administrativo, uma ponte ligando Barcarena-Sede ao distrito de São Francisco, uma Guarda Municipal que nos trouxesse um pouco mais de segurança, escolas funcionando satisfatoriamente, quilômetros e quilômetros de asfalto, saneamento básico, atendimento hospitalar decente, e transparência na gestão pública. Depois de um ano de mandato tão lamentável, ficou claro e explícito que o atual prefeito não tem competência nem seriedade para cumprir sequer 10 % do que alardeou. Sendo assim, melhor esquecer as tais grandes realizações, e nos ater ao que podemos, de fato, fazer funcionar, algo que, por sinal, do muito que nos foi prometido, é o mais importante: transparência. Se conseguirmos fazer funcionar o que, por sinal, é lei, e penalizar infratores, certamente estaremos dando o primeiro passo para chegar aonde queremos.

Chega de ser a sociedade de cordeirinhos! Não basta votar: tem que participar! Está mais do que na hora de cobrar, de maneira firme e determinada, não apenas do prefeito, mas também dos vereadores, afinal, o legislativo é tão culpado quanto o executivo, uma vez que foram eleitos para fiscalizar, e se não estão cumprindo com o dever de representantes, são coniventes com a bandalheira. E não devemos nos esquecer do Ministério Público, que, embora tenha conseguido botar um pouco de ordem na Câmara, também tem deixado a desejar. É lógico que todos nós temos nossas ocupações, mas é hora de fazer abaixo assinado, passeata, entrar com processo, e tornar difícil a vida mansa daqueles que, claramente, estão nos roubando, e dos que, por preguiça ou por desonestidade, recebem salário e não querem trabalhar. Quem sabe, se passarmos a nos ocupar um pouco mais com a política, comece a surgir lideranças sérias, e no final do mandato de prefeito e vereadores, não teremos candidatos mais confiáveis? Chega de chorar o leite derramado, e achar que política é algo sujo e sem solução. Se há tanta patifaria no meio político, os principais culpados, certamente, somos nós mesmos.