segunda-feira, 7 de abril de 2014

O círculo vicioso da improbidade

O ranking global que avalia anualmente a corrupção no setor público, divulgado em dezembro do ano passado pela organização não-governamental Transparência Internacional, coloca o Brasil em 72º lugar entre 177 países pesquisados. Numa escala que vai de zero (mais corrupto) a cem (menos corrupto), a nossa pátria amada idolatrada mãe gentil ficou com nota 42. A classificação, baseada em opiniões de especialistas e pesquisas elaboradas por 13 entidades internacionais de acordo com o nível de confiabilidade dos governos de cada país, coloca como menos corruptos Nova Zelândia e Dinamarca, ambos com 91 pontos. Ou seja, se há algo de podre no reino de Hamlet, o personagem de William Shakespeare ficaria boquiaberto com a nossa Terra Brasilis.

A especialista em políticas de Educação e Ciência Sabine Righetti faz ligação entre corrupção e falha no sistema de ensino, e traz, em seu blog no jornal Folha de São Paulo, o seguinte dilema: “Países com melhores níveis de Educação atingem tais patamares porque são menos corruptos ou são menos corruptos porque têm melhores níveis de Educação?”. Em resposta, o professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, Rafael Alcadipani, afirma que “são as duas coisas”, uma vez que “trata-se de um sistema que se retroalimenta”, que provoca um “círculo virtuoso”, onde tudo tende a funcionar bem. Políticos pouco dispostos à transparência, mandatários dos países mais atrasados do planeta, sempre souberam muito bem disso, e assim, nunca se dispuseram a situar a Educação com a devida importância. Neste sentido, semelhança com o Brasil, e em particular com Barcarena, não é mera coincidência, nem ficção.

Políticos embusteiros gostam mesmo é de obras públicas. De preferência aquelas que nunca chegam ao fim, mesmo superfaturadas e de qualidade duvidosa. Alguns, inclusive, chegam ao desplante de inaugurá-las assim mesmo, pela metade. Quanto mais obras, mais dinheiro saindo pelo ladrão, e mais o eleitor é levado a achar que o político em questão é dinâmico o suficiente para “conseguir verba”. No final, o povo paga a conta, não apenas das obras mal feitas ou inacabadas, mas também do serviço público precário, que também serve como forma de perpetuar o círculo vicioso da improbidade.

Obras públicas são importantes e necessárias, mas com responsabilidade e transparência. Em Barcarena, o atual prefeito, a exemplo dos que o antecederam, além de não ter tido competência sequer para “conseguir verba” para tocar obras relevantes, ou mesmo dar continuidade a algumas já iniciadas em outras gestões, pouco tem ligado para serviços essenciais como Educação, Saúde, Transporte e Segurança. Além disso, transparência, que é fundamental numa administração pública, passa longe, tudo com a cumplicidade da Câmara de Vereadores, que até o presente momento se limita a fingir que fiscaliza o executivo.

A verdade é que esse governo está completamente comprometido, e deste mato não sai coelho. Antônio Carlos Vilaça não tem nem a sombra da competência que fazia crer antes de eleito. Seriedade, muito menos. Desde o início do seu mandato, tem dado mostras frequentes de inaptidão para o cargo, e tem usado frequentemente de artifícios e mandracaria com as contas públicas. Quanto ao poder legislativo, este insiste em fechar os olhos para os acontecimentos. Cabe ao povo, se quiser ver o município mudar para melhor, acionar o Ministério Público, que também permanece inerte, e também protestar, tanto nas ruas quanto nas urnas.

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