quarta-feira, 12 de março de 2014

Eleições já

Durante entrevista à jornalista de O CIDADÃO, Milene Araújo (sobre a greve nacional dos professores – ver matéria na página 3 desta edição), a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) em Barcarena, Vera Lúcia Campos, fez uma afirmação que despertou sobremaneira a minha atenção: “Também iremos discutir a eleição dos diretores das escolas municipais, porque atualmente estes profissionais rezam na cartilha do governo e o que nós pretendemos é promover essa eleição através da própria comunidade em que a escola está localizada. Assim, este profissional irá lutar pelos problemas da comunidade escolar e não mais ficar seguindo a cartilha da prefeitura”, declarou a coordenadora, informando a respeito de alguns assuntos que seriam debatidos em reunião com a classe profissional.

Estabelecer eleições para diretorias de escolas públicas é algo que, certamente, trará enormes benefícios para o município, e por vários motivos. Um deles é que diretores eleitos tendem a ser mais cuidadosos com a parte física da instituição, bem como com o ensino em si. Além disso, tendem a ser menos prepotentes, e a ouvir com mais atenção reivindicações de professores, alunos e pais de alunos. Sem contar que, uma vez eleitos, diretores não mais serão vistos como “estranhos no ninho”. Em Aracaju, onde eleições foram instituídas, uma diretora eleita, que anteriormente havia ocupado o cargo por nomeação do executivo, revelou, durante pesquisa sobre o tema, que “trabalhar com a equipe que o escolheu é muito diferente de chegar à escola e ainda ter de conquistar a confiança da comunidade”. Os benefícios não param por aí. Não dependendo mais dos humores do secretário de Educação para permanecerem no cargo, e não devendo ao executivo o “favor” de terem sidos nomeados para a função, diretores ficarão livres para cobrar providências da Secretaria, ao invés de ficarem esperando pela boa vontade do seu “patrão e benfeitor”, algo que, por sinal, tem acontecido com certa frequência em Barcarena. Foi o que ocorreu, por exemplo, na Escola Agrícola, onde, questionada sobre o estado precário e a falta de manutenção, a diretora Elizete Franco alegou para nossa reportagem: “estamos esperando essa reforma”.

Entretanto, embora traga melhorias ao ensino, eleições para diretorias de escolas não deve agradar à prefeitura, a exemplo do que ocorre em diversas cidades brasileiras onde a ideia foi implantada. O problema é que, além de ficar mais vulnerável a reclamações (genericamente, políticos não gostam de ter ninguém os incomodando), o prefeito deixará de ter esses cargos de confiança como moeda de troca com vereadores, cabos eleitorais e outros correligionários.

É bem verdade que a atual situação caótica das escolas públicas barcarenenses só poderá ser superada com a vontade política dos governantes, coisa que não se pode esperar por aqui. Por isso mesmo, a eleição de diretores pode não dar respostas imediatas, frustrando expectativa que a comunidade passe a ter. Por outro lado, diretores eleitos podem ser um aliado importante, alguém que possibilite exercer maior pressão sobre o executivo para que ele atue na direção desejada. Em resumo: conseguir instituir eleições nas escolas, provavelmente, não será uma luta fácil, mas certamente valerá a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário