sexta-feira, 21 de março de 2014

Pombas, gaviões e violino

Chamada de capa do livro “Pombas e Gaviões”, do articulista do jornal Zero Hora, Percival Puggina: “Uma indispensável leitura, porque os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal-intencionados”. A frase de Puggina me veio à memória num momento em que refletia sobre a alienação da nossa sociedade em relação à política, e me fez lembrar, numa espécie de ligação causal, de outra, do ex-governador de Santa Catarina e ex-senador Espiridião Amin: “O poder é como o violino: toma-se com a esquerda, mas toca-se com a direita”. Duas metáforas fortes, que sintetizam com perfeição o jogo político que grassa mundo afora, principalmente em países terceiro-mundistas, onde há sempre uma corja de carcarás a manipular, e com extrema facilidade, a massa cordata dos juritis, que lhes entrega de mão beijada, sem qualquer questionamento, os destinos de um país. Ou de uma cidade, como também é o caso de Barcarena.

Dia após dia, políticos desonestos usam e abusam de argumentos falaciosos, de sofismas os mais manjados, e ainda assim iludem o eleitor, sem pejo e sem hesitação, sacando-lhe a cidadania com a facilidade com que se tira um pirulito da boca de uma criança. E quanto maior a alienação de uma sociedade, maior o engodo e a tirania. É essa a razão pela qual o povo aceita, doce e candidamente, que velhas promessas de campanha sejam sempre lançadas no baú da velhacaria, com a complacência da memória “alzheimiana” da patuleia, para que depois surjam no próximo pleito, como se estalando de novas. E uma vez que anjos não fazem política, e cordeiros morrem calados, vivemos numa democracia de faz de conta, onde eleitos fingem que nos representam, enquanto cuidam de seus próprios umbigos.

Em agosto do ano passado, nossos representantes na Câmara de Vereadores acharam por bem dar início a algo que, por dever de oficio, era para acontecer desde sempre: fiscalizar o executivo. Não faltaram acusações, denúncias e requerimentos, tudo regado a discursos inflamados, onde Antônio Carlos Vilaça, intimado a prestar contas e apresentar comprovações, só não era chamado de bonito. O tempo passou, e não mais se falou no assunto. Que fim terá levado os balancetes e notas exibidos pelo “Prefeito Calamidade”? O que levou os parlamentares a aplicar o gerundismo dos operadores de telemarketing, num interminável “estaremos analisando” os documentos? Quando será que a Casa do Povo vai se dignar a dar um parecer?

Em julho passado, o então vereador presidente da Câmara, Ary Santos, foi afastado judicialmente de suas funções, após o Ministério Público o ter denunciado por malversação de dinheiro público. Na época, parlamentares convidados a depor no prédio do MP afirmaram que não sabiam de nada, mas se comprometeram a apurar os fatos. Na sessão ordinária de 11 de março último, foi formada uma Comissão Processante, que tem agora noventa dias para averiguar as muitas e evidentes falcatruas de Santos, e decidir se lhe cassa ou não o mandato. Uma vez que o corrupto, aliado e mentor de Santos, vereador Luiz Ladrão, não compareceu à sessão, a criação da Comissão foi aprovada por unanimidade. Resta agora saber se nossos representantes cumprirão com o que lhes cabe, ou se o corporativismo prevalecerá. Quanto a nós, eleitores, é importante estarmos atentos ao desfecho dessa demanda, para que no futuro não sejamos enganados.

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